sexta-feira, 3 de agosto de 2007

o mito do leitor ideal


Segundo estudos de alguns estudiosos da teoria da leitura, semiótica e comunicação (dentre eles Umberto Eco), existe dois tipos de leitores que vale a pena ressaltar: o modelo e o empírico. O leitor modelo seria aquele que pudesse "ler" a cabeça do autor quando ele escreveu determinado texto. Tiraria as conclusões certas, faria as relações certas e se assim fosse, um leitor tão ideal, nem precisaria chegar ao fim da leitura pra saber qual seria o fim do texto, pois ele sabe exatamente o que o escritor queria dizer, então ele já saberia o final.
É claro que esse tipo de leitor não existe, o que existe são os leitores como eu e você, ou seja, os leitores empíricos. Esses leitores são os que lêem e interpretam o texto de acordo com seus conhecimentos. Ou seja, você (assim como eu) já se pegou lendo alguma coisa e fazendo mentalmente várias associações - por exemplo, nesse texto têm alguns indicadores, colocados por mim, para uma interpretação do que eu estou querendo dizer. Quem conhece um pouco do assunto (estudantes de Letras, Comunicação, e afins) ou que simplesmente já ouviu falar de Umberto Eco, nem que seja de longe (aquele escritor cujo livro deu origem à aquele filme estrelado pelo Sean Connery) tá conseguindo fazer um tipo de leitura. Pra quem tudo isso tá soando tão claro quanto latim, tá tendo outro tipo.
Na escola, lá no ensino fundamental, nas aulas de português, a professora pedia para lermos alguns livros que vinham com uma série de perguntinhas no final pra gente responder, lembram? Quantas vezes nossas respostas eram totalmente diferentes ao do colega do lado. Aquele amiguinho/a que tinha muito em comum conosco, mas que mesmo assim dava respostas totalmente diferentes. É disso que estou falando, mesmo com aquelas perguntinhas no final (que era a tentativa do autor de fazermos identificar os principais pontos) a gente interpretava de acordo com nosso "universo", nossos conhecimentos.
Em alguns dias postarei algo mais científico sobre essa teoria (pra quem ficou curioso sobre o assunto).
Achei um texto bem legal de um escritor até agora desconhecido pra mim, Virgílio Ferreira, que fala cobre esse utópico leitor modelo, leitor de pensamentos.

“O grande sonho de todo o escritor - se o tiver - será o de nunca encontrar o leitor «ideal». Porque se o encontrasse, a sua obra morreria aí. Cada leitor, com efeito, recria a obra que lê; e a perpetuidade de uma obra significará a sua perpétua recriação. Uma obra é o que é, mais o que dela foram fazendo os seus leitores. Um «leitor» ideal seria o que esgotasse todas as possibilidades dessa obra. Que haveria a fazer dela depois? Mas como conceber mesmo um leitor «ideal»? Pobre é a obra cujas virtualidades o seu autor conhece antecipadamente. Eis porque é banal dizer-se por exemplo que um Sófocles ficaria surpreendido se soubesse o que nós hoje lemos na sua obra. É que essa obra, porque é grande, necessariamente o excedeu.”

3 comentários:

Fábio Mayer disse...

A interpretação de um texto é algo fascinante.

Peguemos o exemplo dos textos religiosos. A mesma Bíblia que fornece subsídios para a fé católica, é interpretada de outro modo pela fá evangélica.

O mesmo Corão, documento que prega a paz e a cordialidade suprema entre os homens, pode ser interpretado por uns poucos até para decretar uma "guerra santa".

O leitor tem em sua mente o poder de transformar as palavras alheias em mitos, em bandeiras, em sofismas e até em princípios.

bagagens&destinos disse...

UHu!! òtima idéia, Bia! Já vou virar frequentadora ssídua do seu blog...

Anônimo disse...

Por que nao:)