sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Dica para o fim de semana...


Chegou sexta-feira! Pra muito não significa que a semana acabou, meu fim de semana começa apenas amanhã às 17 horas, e depois de um dia todo de aulas já estou cansada demais pra fazer alguma coisa! Então meu findis resume-se a domingo só.

Mas para os sortudos entre vocês cujos compromissos acabam hoje às 17 tenho uma dica de programa, pra fazer a dois, a três...a um, porque não, diversão pode ser solitária SIM! Assistam ao filme Paris eu te amo. É um filme belíssimo composto por 21 mini curtas sobre histórias que se passam na capital francesa. Vale mesmo a pena! Aqueles que me conhcem com certeza lembrarão de mim em um deles...Vejam o trailler clicando nesse link http://guia.rpc.com.br/roteiro.phtml?tit=Paris-Te-Amo&rid=4477&cidade=1&tipo=&aba=ci&estab=0


Bom fim de semana à todos, quem vir o filme pode deixar suas impressões aqui!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Amigos, amigos...

Sou uma pessoa rica, pois tenho em minha volta pessoas adoráveis que não me deixam sentir sozinha, triste, deprimida, etc. Tenho amigos (amigas principalmente) que me fazem sentir amada, querida, me fazem rir das situações em que eu normalmente choraria.
Ao contrário de muitas pessoas, não acredito que encontrar a "outra metade" nos faça pessoas melhores, felizes e nunca sozinhas. As pessoas responsáveis por esses sentimentos são os amigos! Pois namorados(as), maridos e esposas têm suas vidas independentes do parceiro, não podemos viver em função de alguém. Não podemos esperar essa pessoa aparecer para sermos felizes.Assim como não podemos abrir mão dos amigos quando essa pessoa aparece, NUNCA! Pois é com eles que sempre podemos contar...inclusive quando um relacionamento acaba.
Estava procurando uns textos no meu computador e achei esse que gosto muito e expressa -em melhores palavras que as minhas, a impotância dos amigos e a escolha deles

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.Não quero risos previsíveis e nem choros piedosos.Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.Não quero amigos adultos e nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice.Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.TENHO AMIGOS PARA SABER QUEM EU SOU.Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil."
Oscar Wilde

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Coisas que me irritam

Definitivamente tô envelhecendo! Ando me irritando demais e essa rabugentice toda é sinal de uma coisa: tô velha!

Fiz até uma lista pra dividir com vocês, pra ver se sou só eu ou realmente a irritação tá generalizada! Vamos lá...

- fila de banco;

- esperar por horas pra ser atendida no call center e ser passada de setor a setor e ter que repetir todas as informações;

- a liguagem "gerúdio" dos atendentes (ex:estarei passando para o responsável...). Gente...na língua protuguesa não existe Present Perfect!;

- ligar no celular de alguém e estar desligado;

- ligar pra casa de alguém e ser atendida pela secretária eletrônica;

- receber torpedos da TIM;

- aquele toque de celular característico da NOKIA;

- venderores de bala e malabaristas no sinal;

- receber pelo correio cartões de crédito que eu não pedi;

- ouvir dos alunos: "dá pra fazer a lápis" e "é pra entregar?";

- tirar saldo e ver que nunca tenho o suficiente;

- o preço da gasolina;

- a visita do Lula a Curitiba;

- o próprio Lula;

- ter que gastar uma grana no conserto do lap top porque peguei vírus;

- não achar nada na TV pra assistir;

- a falta de opções de programas pra fazer em Curitiba;

- ver que a peça que quero ver sai de cartaz hoje;

- que o filme que eu tava adiando pra ver já saiu dos cinemas;

- emails de corrente;

- email religiosos;

- a pacividade do povo brasileiro;

- gente que se indigna, mas sempre dão aquele "jeitinho brasileiro";

- papo de jornalista revoltado;

- ver em todos os noticiários 90% de notícias sobre corrupção, violência e caos aéreo;

- ver os outros 10% de banalidades;

e principalemente: ir até minha garagem e ver que meu rádio foi roubado (de novo!)

Acho que algumas irritam vocês também. E se tiverem outras pra acrescentar a lista, por favor escrevam!

Bom fim de semana a todos e vamos tentar não nos irritar - tanto!



segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O que se esconde por trás dos ditados populares







Tempos atrás fiz um trabalho pra minha pós que rendeu muito que falar!
Em um dos módulos eu precisava escrever algo que tivesse certa “investigação”, ou seja, uma mensagem escondida, fosse em textos, em comerciais de TV etc. Depois de muito pensar em busca de uma idéia autêntica escrevi um texto sobre um assunto que poucas pessoas se tocam, o racismo escondido que temos em nosso país.
Moramos num país racista ou o Brasil é o paraíso inter-racial? Quando você chama um amigo de “negão” será que ele gosta ou se ofende? Vocês já pararam pra pensar em quantas expressões, ditados populares e músicas existem que diminuem o negro? Eu nunca tinha pensado nisso, até que tive um estalo e fiz esse texto.
Tenho certeza que todos vocês ouvem essas expressões desde pequenos e já as usaram sem pudor nenhum. Algumas delas tiveram origem no Brasil colônia. Quando eu era criança ouvia muito, minha família de origem alemã, italiana e polonesa, sempre usava alguma dessa pérolas! Principalmente minha avó que dizia que os amigos negros dos meus pais eram “pretos de alma branca”, ou seja, sugere que o negro pra ser aceito, pra ter qualidades deve portar-se como o branco. O negro “preto de alma branca” é tolerado, é uma exceção pois nega sua própria alma e aceita a superioridade do branco. Assim como o seu oposto “branco de alma negra” é usado para pessoas brancas que se portam mal, ou seja, se portam como “negros”, ditos inferiores e desonestos.
Porém quando esses mesmos amigos faziam algo errado, tinham feito um “serviço de preto” ou sua variante: “só podia ser preto”. Esse ditado nasceu da crença de que os negros eram incapazes de realizar bem uma tarefa, de fazer um bom trabalho de tal maneira que fosse “digna de um branco”. Outra expressão sobre a “incapacidade” do negro é: “preto quando não suja na entrada suja na saída”. Imaginava-se que o escravo acabaria fazendo algo errado, devido a sua “incompetência”, por ser “inferior” ou “preguiçoso”. E também por serem considerados sujos, até mesmo devido às condições em que viviam. Então o seu erro era esperado antes ou depois de terminar sua tarefa. E quem nunca fez um trabalho “nas coxas”? Esse também é um ditado de origem colonial e é usado para designar um trabalho imperfeito ou sem cuidado. Imperfeitas como as telhas de formas arredondadas das casas do Brasil colonial que, para fabricá-las, os escravos tinham que modelá-las em suas coxas, para dar um formato de canal. Como ficavam irregulares e pouco uniformes, o telhado ficava torto e mal feito.
Existem algumas que são mais recentes e nasceram depois da abolição. Após conseguirem suas alforrias, os negros continuavam a trabalhar para os brancos, mas nem todos conseguiam trabalho e algumas vezes viam, nos pequenos furtos, uma maneira de sobrevivência. É dessa época o ditado “Um negro parado é suspeito, um negro correndo é ladrão”.
A maioria dos brancos estranha quando vê um negro freqüentando o mesmo shopping, a mesma escola particular dos filhos, o mesmo clube, e até mesmo que eles usem o elevador social. "Preto não pode entrar na gaiola”, ou seja, para os brancos racistas, os negros não podem pertencer ao grupo seleto de brancos ricos, capazes e trabalhadores, pois são social e intelectualmente inferiores, incapazes.
E não podemos esquecer daquela que na minha opinião é a campeã, uma das mais usadas, pelo menos a que eu mais ouço: “eles que são brancos que se entendam”. A versão mais aceita do surgimento desse ditado é do século XVIII, quando um capitão de regimento, mulato, teve uma discussão com um de seus comandados, também mulato, e fez queixa a seu superior, um oficial português branco. O capitão reivindicava uma punição ao soldado que o desrespeitara. Seu superior português respondeu com a seguinte frase “vocês que são pardos que se entendam”. O oficial recorreu ao vice-rei do Brasil na época, dom Luís de Vasconcelos, que mandou prender o oficial português. Sendo essa uma das primeiras punições contra o racismo no Brasil. Ao longo do tempo a expressão se transformou no que é usada hoje “eles que são brancos que se entendam”, quando alguém não quer tomar partido em alguma situação.
Pode ser herança colonial, ingenuidade, mas essa é uma forma velada de racismo. É claro que todos nós já usamos algumas e isso não faz de nós pessoas racistas. Esses ditados populares estão tão enraizados em nossa cultura que é impossível não ouví-las e às vezes usá-las. Eu sou loira, de olhos verdes, nunca fui discriminada na vida, o máximo que já falaram pra mim foi “polaca azeda”, mas vocês conseguem imaginar como ouvir umas dessas expressões pode magoar?


Para ler mais sobre o assunto:


SARTRE, Jean Paul. Reflexões sobre o Racismo.
PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira. Metáforas Negras
DEGLER, Carl. Nem preto nem branco
SCHWARTZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças
FREYRE, Gilberto . Casa Grande e Senzala
MOTT, Maria Lúcia Barros. Submissão e resistência, a mulher na luta contra a escravidão

sábado, 18 de agosto de 2007

Álbum de fotografias



Essa semana peguei uns álbuns de fotografias antigos e fiz uma deliciosa viagem no tempo! Revi pessoas que já se foram, casas onde já morei, roupas e cortes de cabelo que me envergonho de ter usado.
Esse tipo de incursão a nossa história é sempre emocionante. Ao me ver criança tentei imaginar o que aquela sorridente menininha de 4 anos gostava, o que a de 15 imaginava como seria sua vida aos 30, e os sonhos.
Lí em alguns blogs ontem alguns posts também nostálgicos (acho que essa semana foi de introspecção pra muita gente!)
Como cheguei a comentar em um deles, somos fruto de nossas escolhas, boas ou ruins, certas ou erradas.Mas também acho que nunca é tarde para tomarmos as rédeas de nossas vidas. Tenho um exemplo bem próxímo: meu pai. Formado em Ciências Contábeis em 1977, sempre teve o sonho de estudar Direito. Fez vestibular em 2003, e passou na Direito de Curitiba! Foi atrás se seu sonho, é um dos melhores da turma e se forma ano que vem.
Não interessa o rumo que nossa vida tomou, podemos escolher sempre outro caminho quando chegamos na encruzilhada. Temos que ter coragem, determinação e acima de tudo aprender com nossos erros passados.


Bom fim de semana à todos!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Você fala português?


Quando alguém começa a estudar uma língua estrangeira, se assusta por tudo o que ainda tem pela frente. Regras gramaticais, pronúncia e principalmente vocabulário, pois sem palavras não se fala, certo?

Mesmo no português é a qualidade do vocabulário que denuncia o nível escolar e social da pessoa. Isso também acontece no inglês, como é possível ver no filme My Fair Lady, onde Audrey Hepburn é uma florista que aprende a falar corretamente, devido a uma aposta em que o professor de linguística garante que qualquer pessoa pode aprender a forma culta da língua e se passar por um aristocrata.

Em nosso país, mesmo com o acesso a tanta informação em rádio, Tv, veículos acessíveis a 90% da população, é incrível como se fala errado! Mesmo entre pessoas com nível universitário. Daí quando essas pessoas se rendem a necessidade do estudo de uma língua estrangeira, acham que vai ser muito difícil e algumas desistem no meio do caminho. Mas e nossa língua-mãe, será que falamos mesmo? Será que temos domínio de nosso idioma nacional? Se você acha que sim, todos os brasileiros falam português, leia o texto abaixo do grande Rui Barbosa:

"Contam que um ladrão foi roubar galinha na casa do célebre Rui Barbosa. Ao vê-lo, o ilustre jurista começou um discurso:

- Não é pelo bico de bípede, nem pelo valor intrínseco do galináceo, mas por ousares transpor os umbrais de minha residência. Se for por mera ignorância, perdôo-te, mas se for para abusar de minha alta prosopopéia, juro pelos tacões metabólicos dos meus calçados que te darei tamanha bordoada que transformarei sua massa cefálica em cinzas cadavéricas. O ladrão sem graça, perguntou :

- Como é, “ Seu Rui “ eu posso levar a galinha ou não ?


Então, falamos todos o mesmo português?

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

e tudo começou com a Mônica...



Eu convivo muito com adolescentes (por ser professora) e eles sempre me surpreendem. Às vezes de maneira positiva, outras nem tanto. Como quando um aluno meu de uns 13 anos no máximo me disse que nunca (NUNCA!) tinha lido um livro do começo ao fim! Até os livros de leitura obrigatória na escola, ele começava a ler e depois pegava um resumo - na Internet!!!!
Aí ficam algumas questões, entre elas de como a Internet tá afetando os mais jovens. Principalmente seus hábitos de leitura. Quando eu era criança - no início do anos 80 quando a Internet não era nem projeto, eu colecionava gibis da Turma da Mônica, antes de aprender a ler. Mas foi esse o início da minha "carreira" de leitora. Um começo bem modesto, que depois dos gibis foi evoluindo pra livros mais fáceis (na época da alfabetização). Me lembro como se fosse ontem (que frase de velho!!!) de quando ganhei dos meus pais uma coleção de fábulas. Eram cindo livros grandes, com encadernações coloridas que no começo mais me chamavam a atenção pelas imagens do que pelo conteúdo. Como eu não sabia ler ainda, quem os lia pra mim era minha avó, uma senhora de pouco estudo, mas que sempre leu.
Isso já faz tanto tempo e está tão enraizado na minha vida, que muitos livros depois, eu não me lembro se em algum momento a leitura foi incentivada ou a curiosidade partiu de mim. Mas lembro que das figuras para as palavras a transição foi fascinante. Assim como quando eu comecei a ler em outras línguas, a sensação foi a mesma, de decifrar códigos secretos que me levariam a outros universos. E o desinteresse das crianças/adolescentes (e muitos adultos) me deixa extremamente triste. Por que essa geração que tá crescendo na época da Internet não têm o mesmo contato com o "papel" como eu e você. Nunca foram fazer trabalho escolar (manuscrito!) na Biblioteca Pública (nunca entraram lá!!).Entram na FNAC e vão direto na sessão de jogos. Lembram dos escritores com certo ranço, porque são obrigados a ler Érico Veríssimo, Clarice Lispector e Machado de Assis na escola e tudo o que é feito por obrigação gera certa repulsa na idade adulta. Eu não sei como esses professores de português/literatura trabalham isso em sala, se ainda usam aquelas famigeradas "fichas de leitura", mas tudo começa na infância, é esse primeiro contato com a literatura que vai criar (ou não) um futuro leitor.
E a Internet pode sim, ser usada como aliada e não vilã. É possível aliar o papel ao virtual.
Nesse semestre eu tenho um projeto audacioso. Vou propor aos meus alunos a leitura de um livro, escolhido por eles, sobre o tema que eles quiserem e em inglês! É a minha contribuição para a formação de leitores conscientes. Vamos ver no que vai dar! Eles vão chiar - é claro! Mas o resultado vai ser legal - ou decepcionante!

sábado, 4 de agosto de 2007

reflexões de Alberto Manguel sobre o tema


"o leitor ideal é o escritor no instante anterior à escrita. o leitor ideal não reconstroi um texto: recria-o. o leitor ideal tem uma capacidade ilimitada de esquecimento. o leitor ideal não se interessa pelos escritos de michel houllebecq. o leitor ideal sabe aquilo que o escritor só intui. o leitor ideal subverte o texto. o leitor ideal não se fia na palavra do escritor. o leitor ideal procede por acumulação: cada vez que lê um texto, agrega um nova capa de memória ao conto. todo o leitor ideal é um leitor associativo. lê como se todos os livros fossem a obra de um único escritor, prolífico e intemporal. ao fechar um livro, o leitor ideal sente que, se não o tivesse lido, o mundo seria mais pobre. o leitor ideal é como joseph joubert que arrancava dos livros da sua biblioteca as páginas que não gostava. o leitor ideal tem um sentido de humor perverso. o leitor ideal lê como se toda a literatura fosse anônima. o leitor ideal usa com prazer o dicionário. o leitor ideal julga o livro pela sua capa. Paolo e Francesca não eram leitores ideais, já que confessaram a Dante que, depois do primeiro beijo, não leram mais. o leitor ideal tinha dado o beijo e continuava a ler. um amor não exclui o outro. o leitor ideal partilha a ética de Dom Quixote, o desejo de madame Bovary, o espírito aventureiro de Ulisses, a desfaçatez de zazie, enquanto dura a narração. o leitor ideal é politeísta. Robinson não é um leitor ideal. lê a Biblia para encontrar respostas. o leitor ideal lê para encontrar perguntas. todo o livro, bom ou mau, tem o seu leitor ideal. para o leitor ideal, todos os livros são, em certa medida, a sua autobiografia. o leitor ideal tem uma nacionalidade precisa. às vezes um livro deve esperar vários séculos para encontrar o seu leitor ideal. Blake precisou de 150 anos para encontrar Northrop Frye. Pinochet, ao proibir Dom Quixote por temer que o livro pudesse ler-se como uma defesa da desobediência civil, foi o seu leitor ideal. 'há três classes de leitores: a primeira, aqueles que gostam de um livro sem o julgarem; a terceira, aqueles que o julgam sem gostarem dele; a outra, entre as duas, os que julgam apesar de gostarem ou gostam apesar de julgarem. estes últimos dão nova vida a uma obra de arte, e não são muitos' disse Goethe numa carta a Johann Friedrich Rochlitz. os leitores que se suicidaram depois de lerem Werther não eram leitores ideais e apenas meros sentimentais. o leitor ideal deseja chegar ao fim do livro e, ao mesmo tempo, que ele não acabe. o leitor ideal é (ou parece ser) mais inteligente que o escritor. e por isso não o diminui. as boas intenções não fazem leitores ideais. o Marquês de Sade: 'só escrevo para quem pode entender-me, e estes leram-me sem correrem perigo'. o Marquês de Sade enganou-se: o leitor ideal corre sempre perigo. o escritor nunca é o seu próprio leitor ideal. a literatura depende, não de leitores ideais, mas de leitores suficientemente bons."
alberto manguel excertos da crônica 'a pie de página' babelia (el pais), 29.11.2003

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

o mito do leitor ideal


Segundo estudos de alguns estudiosos da teoria da leitura, semiótica e comunicação (dentre eles Umberto Eco), existe dois tipos de leitores que vale a pena ressaltar: o modelo e o empírico. O leitor modelo seria aquele que pudesse "ler" a cabeça do autor quando ele escreveu determinado texto. Tiraria as conclusões certas, faria as relações certas e se assim fosse, um leitor tão ideal, nem precisaria chegar ao fim da leitura pra saber qual seria o fim do texto, pois ele sabe exatamente o que o escritor queria dizer, então ele já saberia o final.
É claro que esse tipo de leitor não existe, o que existe são os leitores como eu e você, ou seja, os leitores empíricos. Esses leitores são os que lêem e interpretam o texto de acordo com seus conhecimentos. Ou seja, você (assim como eu) já se pegou lendo alguma coisa e fazendo mentalmente várias associações - por exemplo, nesse texto têm alguns indicadores, colocados por mim, para uma interpretação do que eu estou querendo dizer. Quem conhece um pouco do assunto (estudantes de Letras, Comunicação, e afins) ou que simplesmente já ouviu falar de Umberto Eco, nem que seja de longe (aquele escritor cujo livro deu origem à aquele filme estrelado pelo Sean Connery) tá conseguindo fazer um tipo de leitura. Pra quem tudo isso tá soando tão claro quanto latim, tá tendo outro tipo.
Na escola, lá no ensino fundamental, nas aulas de português, a professora pedia para lermos alguns livros que vinham com uma série de perguntinhas no final pra gente responder, lembram? Quantas vezes nossas respostas eram totalmente diferentes ao do colega do lado. Aquele amiguinho/a que tinha muito em comum conosco, mas que mesmo assim dava respostas totalmente diferentes. É disso que estou falando, mesmo com aquelas perguntinhas no final (que era a tentativa do autor de fazermos identificar os principais pontos) a gente interpretava de acordo com nosso "universo", nossos conhecimentos.
Em alguns dias postarei algo mais científico sobre essa teoria (pra quem ficou curioso sobre o assunto).
Achei um texto bem legal de um escritor até agora desconhecido pra mim, Virgílio Ferreira, que fala cobre esse utópico leitor modelo, leitor de pensamentos.

“O grande sonho de todo o escritor - se o tiver - será o de nunca encontrar o leitor «ideal». Porque se o encontrasse, a sua obra morreria aí. Cada leitor, com efeito, recria a obra que lê; e a perpetuidade de uma obra significará a sua perpétua recriação. Uma obra é o que é, mais o que dela foram fazendo os seus leitores. Um «leitor» ideal seria o que esgotasse todas as possibilidades dessa obra. Que haveria a fazer dela depois? Mas como conceber mesmo um leitor «ideal»? Pobre é a obra cujas virtualidades o seu autor conhece antecipadamente. Eis porque é banal dizer-se por exemplo que um Sófocles ficaria surpreendido se soubesse o que nós hoje lemos na sua obra. É que essa obra, porque é grande, necessariamente o excedeu.”